quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Perfil

Mineira, mineira!
Por Lorena Guedes
Maria - Comerciante-

Maria me recebe em sua casa numa terça-feira às 6 horas da manhã com um sorriso simpático.  Eu a ajudo a carregar algumas sacolas com alimentos para o carro. “Antes quando eu não tinha carro era pior, eu tinha que sair ainda mais cedo e levar várias sacolas de ônibus,” afirma. Saímos ainda no escuro e no caminho tivemos a oportunidade de apreciar o pôr-do-sol.
Levamos aproximadamente 45 minutos para sair de Samambaia e chegar ao restaurante de Maria que fica na L2 Norte. Ao chegarmos, todas as seis funcionárias ajudam a carregar as sacolas de compras. Depois a chefe de cozinha, Maristela, prepara um café e Maria vai ao mercado que fica em frente para comprar verduras frescas e pães.
 Quando ela chega, todas as comerciárias vão tomar o café da manhã. “Costumamos comer rápido, mas pode ficar à vontade, viu?” me convida a garçonete e saladeira Glenda. A maioria das funcionárias comiam em pé e pareciam estar bem apressadas, percebi que algumas tomavam só o café.
Entre um gole e outro, consegui conversar com a garçonete sobre a comerciante, perguntei a ela o que achava da chefe. “Ah, eu gosto muito dela e gosto muito de trabalhar aqui. Ela trata as funcionários muito bem e dá até algumas gratificações no final da semana. Maria é uma pessoa muito boa, eu sou uma ex-presidiária e apesar disso ela me aceitou,” fala emocionada.
Depois de tomar o café, limpar o local e preparar o almoço é hora de abrir as portas do restaurante. Muitas pessoas que entraram pareciam frequentar o local diariamente, pois cumprimentavam Maria como se já a conhecesse há muito tempo. “Oi Maria, tudo bem?”, “mineira, mineira, hoje tem farofa de feijão tropeiro, né?”, “não se esquece de me dar a receita daquele estrogonofe, hein?” exclamam os fregueses.
Conversei com o empresário Pedro, o cliente que chamou a comerciante de mineira. "Almoço aqui todos os dias há alguns anos. Eu acompanhei o trabalho da Maria desde o início do restaurante e posso dizer que ela é uma pessoa exemplar. Ela começou como funcionária e hoje é dona, prova de que fez um trabalho honesto e de qualidade. Além do mais, as refeições daqui são deliciosas, tem coisa melhor do que comida mineira?” indaga o empresário.
Aos poucos o restaurante ficou lotado e a empreendedora se desdobrava para cumprimentar fregueses, anotar o preço dos pratos e receber o pagamento dos clientes. As funcionárias também corriam para levar sucos, fazer marmitas e repor alimentos.
 Com essa correria o tempo passou rápido e às 14:30 elas já começaram a se organizar para ir embora. Enquanto Maristela lavava as louças perguntei se elas sempre tinham que atender muitos clientes. “Geralmente o restaurante é lotado, mas eu gosto muito de trabalhar aqui, gosto muito da minha chefe!” enfatiza.
Falei à cozinheira que às admirava pelo trabalho árduo que desempenham. Perguntei, se ela sabia como Maria conseguia fazer tantas coisas ao mesmo tempo. “Olha, eu tiro o chapéu, a bolsa e até a roupa pra ela! Porque eu também não sei como ela dá conta!” fala Maristela aos risos. Depois todas se arrumam e pouco a pouco vão embora.
Depois de passarmos em alguns mercados para comprar alimentos para o restaurante, retornamos a casa de Maria às 17 horas. Eu pensei que ela iria se deitar e descansar, mas ela tomou um banho e disse que ia para aula de informática. “Você deve achar estranho, uma pessoa como eu, aos 45 anos indo à aula de informática, né? É que eu não gosto de me sentir desatualizada, às vezes preciso usar o computador e tenho que pedir ajuda para as minhas filhas,” argumenta.
E se você pensou que quando a comerciante chegasse da aula ela iria repousar, errou. “Só depois que eu vou somar as contas do restaurante,” comenta. E finalmente, após todas essas tarefas, a mineira termina mais um dia de sua rotina desgastante. “É um trabalho cansativo, mas é honesto. Sofri muito para chegar até aqui, não é qualquer um que sai da roça e consegue vencer na cidade,” afirma.


Nenhum comentário:

Postar um comentário